Na tarde de 30 de Maio de 2008, quis mostrar os alunos do 7º C e D, na Biblioteca. Mas eles também quiseram mostrar-se. Quiseram mostrar-se a professores, aos colegas e aos Pais a quem convidaram para estar presentes.
Mostrar o quê? Mostrar que gostam de ler em voz alta, que gostam de se ouvir, mostrar que precisam que os Pais os ouçam e vejam o que eles também fizeram nas aulas de Língua Portuguesa, durante este ano. Tudo isto no âmbito do Plano Nacional de Leitura, apropriando-me do título de uma iniciativa semelhante desenvolvida, em anos anteriores, pelo Professor José Manuel Silva, à volta da leitura em voz alta, e que também se chamou “Eu leio, tu ouves”.
Esta actividade aconteceu uma vez por semana, no início de aulas de noventa minutos. Os alunos liam uma obra do seu agrado, seleccionavam o excerto que lhes tivesse agradado e, no dia combinado, liam-no à turma, justificando os motivos da sua escolha. Deveriam também apresentar um objecto que, no seu entender, estivesse relacionado com o excerto escolhido.
Acabada esta fase, as turmas escolheram os alunos que deveriam representá–las nesta iniciativa, perante a comunidade.
No dia 30 de Maio, todos (ou quase todos ) os alunos das turmas compareceram e alguns Pais também vieram.
Na Biblioteca, esta actividade foi intercalada com momentos de poesia. Os alunos quiseram mostrar que a poesia está onde nós a colocamos.
Com o poema “Encruzilhadas do Sem”, de Salette Tavares, os alunos do 7º. D brincaram com os sentidos do poema, lendo-o em várias secções; escolheram os sentidos de leitura, numa polifonia de vozes, de entoações, de sentimentos…, culminando com uma leitura em cânone a três vozes – bem conseguida! Tarefa difícil! – mas que lhes deu a certeza do que são capazes. O aplauso surgiu sonoro, sentido, emocionado, perante a surpresa do efeito.
Depois, por momentos, os alunos quiseram ser poetas, imitando-os. Retiram o carácter de encruzilhada ao poema e transformaram o texto no “Poema do Com”. Para isso, alteraram os três últimos versos de cada estrofe. E outras leituras se seguiram.
Os alunos do 7º. C, num entretenimento continuado, viraram e reviraram o poema “sermos amigos”, de Patrícia Joyce, dando voltas e mais voltas – e outras tantas leituras – desarticulando e reconstruindo continuamente o poema, sem lhe alterar o sentido único: a importância de se ser / ter amigos. Neste exercício, os alunos envolveram todos os presentes que, de modo afinado e em coro, soletraram “ Sermos amigos / Ver-da-dei-ra-men-te”, para que o sentido desta frase ecoasse por mais tempo dentro de cada um …, à mistura com o eco das palmas que eclodiram espontâneas.
Uma turma não conhecia o trabalho da outra, pois a sua preparação foi feita na aula. Mas, neste dia, todos os presentes puderam seguir os malabarismos de leituras que estavam a ser feitas, visto que os poemas foram projectados, em duas bonitas transparências, da responsabilidade do Professor Joaquim Pereira.
Durante esta tarde, os alunos, apesar de algum nervosismo e de alguma agitação, próprios de quem quer fazer boa figura, conseguiram transformar o seu trabalho num momento bonito que a todos agradou.
Eles precisam de mais momentos como este! Pode ser que os voltemos a ver, no próximo ano, à volta de textos, às voltas com textos, mas lendo sempre, porque isso é que é importante.
Maria Rosa Costa, professora de Língua Portuguesa